Supercalifragilisticexpialidocious!

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Esta semana, e sem qualquer tipo de delongas, vou falar-vos mais uma vez sobre ensino, ou a falta dele; refiro-me, como sabem, ao ensino universitário. Mas tendo em conta a experiência que tive no primeiro semestre, poderíamos muito bem estar a falar de ensino secundário.

Ora, para começar, gostaria de me babar um pouco para a folha de papel e tecer uns quantos elogios – não muitos – à minha prestação académica dos últimos três meses e meio (sim, como sabes, os semestres na UALG têm cerca de três meses, facto que já discutimos em anteriores aglomerados de mim). Devo dizer, e faço-o com muita satisfação, que passei a todas as cadeiras em que me inscrevi, perfazendo um total de cinco. Tendo em conta a minha vida profissional e familiar de ultimamente, digamos que não foi pêra doce. Ainda assim, consegui não só aprovar, como tirar boas notas!

Vivêssemos nós num mundo (país) normal, este parágrafo seria dedicado à parte em que eu estrebuchava de alegria e orgulho pela minha prestação. Mas não. A baba do parágrafo anterior é suficiente e, mesmo assim, quase que se torna exagerada. Para ti, que segues este blogue com afinco e dedicação e que todas as semanas partilhas os meus textos – por vezes até mais do que uma vez – o caminho que estou a seguir está a tornar-se rapidamente claro. Sendo que pertences à maioria dos meus seguidores que todas as semanas divulgam os textos (que eu tenho de pagar se quero que mais alguém, para além da minha mulher e família, os leia), não me vou alongar e explicar à minoria a história toda. Aproveito para dizer-te a ti, que ainda não pertences à primeira categoria de seguidores de que falei, que ainda vais a tempo! Mais tarde, quando eu for famoso, terás aquela sensação de dever cumprido, ao teres ajudado um completo desconhecido a ser reconhecido por dizer disparates (se bem que às vezes…).

Voltando ao assunto em questão, que não são as minhas notas, escusado será dizer que mais uma vez estou insatisfeito, indignado e involuntariamente enrubescido! Há qualquer coisa muito errada no Sistema, e eu nada posso fazer para a corrigir! Refiro-me a várias coisas, sendo que a lista se torna quase interminável. Mas poderia começar pela leniência dos professores, que mais parece que ali estão a passar tempo do que outra coisa (atenção, que há sempre exepções à regra). Depois disso, à verdadeira amálgama de gente burra que se encontra a estudar no ensino SUPERIOR, e que eu sinceramente não sei como lá conseguiram chegar (ou melhor, sei: deve ser a tal coisa da leniência, mas no ensino secundário). Mais adiante, poderia fazer menção do sistema de apoio informático aos alunos, vulgo Tutoria Electrónica, que não é usada pela maior parte dos professores e que, ao invés de servir de apoio para alunos como eu (e mais importante, para os Erasmus), não serve para nada! Volto a salvaguardar as excepções. Mas como sabemos, são estas que confirmam a regra.

Podia também, mudando agora de parágrafo, dizer umas quantas coisas sobre a falta de vontade geral que se faz sentir; estou a falar de docentes e discentes. Parece que anda tudo na pasmacêra (!), marimbando-se total e invariavelmente para um futuro que não se adivinha nada risonho. Antes pelo contrário! E depois, quando alguém levanta o sobrolho (eu já deixei de o fazer; agora ando sempre com um pedaço de fita-cola para manter o sobrolho no sítio, não vá o gajo começar com ideias…) é imediatamente abafado pelo tal Sistema a que pertencemos TODOS. E o problema, quer-me parecer, é mesmo esse. A falta de colhões de muita gente perante uma indiferença geral que não se deveria verificar no último (para muitos) passo académico da nossa vida. Digam-me lá, quantos de vós são licenciados, e quantos de vós seguiram os estudos depois de se licenciarem? Aposto que são uma minoria! E sim, isto não é de agora. Os problemas não começaram a aparecer quando eu decidi que ter uma licenciatura era importante. Simplesmente, em mil novecentos e noventa e nove, estava-me a cagar (lá está).

Queiram perdoar-me a verborreia insurgente, mas custa-me ver aqueles que realmente trabalham (não, não estou a falar de mim) serem prejudicados por um Sistema que distribui dezoitos como se estivesse a vender senhas pró almoço. Não pode ser! Eu tenho vários/as colegas que são jovens de valor, com a cabeça no sítio e, mais importante, esforçados. Esforçam-se por estudar (e muitas vezes trabalham ao mesmo tempo) e, no final do semestre, têm a mesma nota dos outros, que nada fizeram! Porra, tanta exclamação!!!

Eu não consigo compreender que um professor comece a distribuir dezassetes como nota mínima porque no ano anterior foi muito criticado por chumbar noventa por cento de uma turma (provavelmente de forma justa). Não consigo. Por outro lado, também não entendo como é possível haver UM professor que, de forma recorrente, chumba turmas inteiras e chega a ter exames com cinquenta alunos. CINQUENTA! Conselho Pedagógico, já ouviram falar? Sabem o que é, e para que serve? Ah, é verdade, estão ocupados a organizar visitas de estudo às ruínas de Milreu, e o raio que os parta.

Também não consigo perceber como é possível um aluno do segundo ano de um curso de línguas não saber soletrar supercalifragilisticexpialidocious!

É IMPRESSIONANTE a quantidade de gente burra e inculta que frequenta o ensino superior e que, num futuro não muito distante, terá uma licenciatura. Sim, porque TODOS passam, mais cedo ou mais tarde. Incluindo a minha amiga do BMW Série 5, que neste momento se anda a pavonear com média de quinze valores e, para o ano, vai trabalhar para a empresa dos papás.

No tempo em que eu frequentava o ensino secundário, para além do respeito geral que havia pelos professores (que eram quase uma instituição), havia também uma grande maioria a querer realmente aprender. A maior parte dos meus colegas de secundário eram bons alunos. Uma boa parte deles tinham a leitura como hábito regular. Quem diz leitura também pode dizer gosto por cinema, música, ou pelas artes em geral. Os burros eram uma minoria, e ficavam inclusivamente menos burros por osmose, rodeados que estavam de gente inteligente e capaz. Espero que tenha ficado claro o que quero dizer com “burros”. Há alunos que são burros; isso sempre houve. Depois, há os que são feitos burros pelo Sistema. Isto foi nos meus anos de secundário. Depois, cheguei à universidade e, a partir daí, foi sempre a descer.

Vinte anos volvidos, estou a poucas semanas de ter o meu segundo filho, e o caminho universitário continua a caminhar no mesmo sentido: para baixo.

Vinte anos volvidos, estão a ser (des)formadas pessoas que deveriam trazer outra bagagem do secundário e que, principalmente, não deveriam chegar à universidade e levar exactamente com a mesma coisa!

Vinte anos volvidos, e falta-me mais um semestre para acabar a minha licenciatura.

Vinte anos volvidos, e para escrever este artigo tive de ir à Net ver como se escreve supercalifragilisticexpialidocious.

Acusar-me-ão de ser burro! Mas eu contraponho que, pelo menos, desenrasquei-me! Estivesse eu a escrever isto há trinta anos, e teria que ter ido à biblioteca ver como se escreve aquela palavra mágica.

Vinte anos volvidos, temos a Mary Poppins e todo um mundo de cultura na palma da nossa mão, à distância de um clique, ou de uma dedada.

Vinte anos volvidos…

E estamos cada vez mais burros.

Até para a semana.

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