Sobre os sonhos

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                                                                      Fotografia por Rui Vivas

 

Os que sonham acordados têm conhecimento de mil coisas que escapam aos que só sonham adormecidos.

 

Edgar Allan Poe

Esta semana falamos de sonhos.

Quantos de nós sonhamos acordados? O que significa ser sonhador? Por que razão não conseguimos atingir os nossos sonhos? Qual é a essência dos sonhos? É melhor sonhar acordado ou enquanto dormimos? Por que não temos qualquer controlo sobre aquilo que sonhamos? É possível agarrar um sonho?

Premissas feitas e questões levantadas, vamos sonhar em conjunto:

O famoso escritor americano que cito no início deste texto tem, a meu ver, toda a razão na sua afirmação. Afinal, sonhar apenas quando dormimos pode ser muito pouco, nem que seja porque não sonhamos todas as noites, ou porque nem sempre os sonhos são bons.

Tem muito que se lhe diga, isto de sonhar acordado.

Segundo Freud (e sim, é inevitável citá-lo quando se fala neste tema), os sonhos têm origem, ou são gerados, através da busca pela realização de um desejo reprimido. Apesar de não me agradar a expressão “desejo reprimido”, reconheço o seu valor enquanto justificação de algo que é, à partida, injustificável.

Quando era (menos) criança, sempre tive o desejo de ser como o Michael Jordan. O mítico desportista era o meu ídolo e eu, na minha inocência, queria ser como ele. Todos os dias, durante anos, joguei basquetebol, sempre com a esperança de que um dia desse um “salto”, e deixasse de ser baixinho. O facto de ser meia-leca não me impedia de ficar a jogar no campo da escola até se fazer de noite. Dias houve em que até à chuva o meu ânimo não se dissolvia. Durante muitos anos, o meu foco era tão forte que não conseguia ver o óbvio: o sonho nunca iria realizar-se. Isto é verdade por vários motivos, mas na altura o que importava era perseguir o sonho, independentemente de estar – ou não – ciente do mais que certo desfecho.

Hoje, enquanto adulto, a minha mente não funciona de forma muito diferente. Ao longo dos últimos trinta anos criei a pessoa que sou hoje e que, acredito, serei nos próximos trinta. Não digo que não possa limar umas arestas e alterar alguns pormenores da minha personalidade, mas julgo que o núcleo da pessoa que sou se encontra bem definido e não sofrerá qualquer alteração.

E o meu núcleo é composto de sonhos vários.

O texto da semana passada, que podem ler aqui, é um reflexo disso mesmo: o sonho (impossível?) de fazer a diferença e alterar mentalidades ou formas de estar. Isto é especialmente verdade nos dias de hoje, em que os pilares básicos em que a vida deveria assentar parecem cada vez mais fracos e, por conseguinte, com uma cada vez maior probabilidade de ruírem.

Ora, eu não estou aqui para tentar emendar o soneto, nem arredondar a roda. Há coisas que são como são e não vale a pena tentar alterá-las.

Todavia, outras há que valem a pena o esforço, mais que não seja porque, durante o processo, nós próprios nos elevamos enquanto seres humanos.

Para mim, a vida é isso mesmo: um percurso de elevação. Se não tentarmos melhorar diariamente, a nossa caminhada deixa de fazer sentido. Os nossos sonhos, tanto os egoístas como os altruístas, não são de todo realizáveis se ficarmos parados, se não quisermos mais, se nos deixarmos conformar. O “deixar passar” é uma forma de vida tão válida como as outras; conheço até vários praticantes. Esta forma de ver o mundo anda de mãos dadas com a da ignorância. Quem ignora os obstáculos é com certeza mais feliz, mas sê-lo-á, certamente, de forma menos plena. Is ignorance really bliss?

Não sendo eu uma pessoa esotérica, ou mesmo espiritual, reconheço que o “acreditar” e a “fé” terão um papel muito importante na construção de um caminho mais feliz, para aqueles que são crentes.

Acredito que sonhar acordado é bom, que “andar na lua” faz bem. No entanto, é importante que não descuremos os nossos sonhos “reais”, e que os persigamos na nossa luta diária. Afinal, chegar ao fim do dia com a sensação de que caminhámos mais um pouco é muito melhor do que irmos para a cama com a cabeça, e o coração, vazios de concretizações.

Realizar sonhos poder ser fácil, e até tão natural como sonhar acordado. Eu vou fazendo o que posso, e tento resistir aos encantos da lua. É difícil, pois é. Mas também, se fosse fácil, perderia toda a piada.

 

E vocês, como preferem sonhar?

 

 

Até para a semana.

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3 Replies to “Sobre os sonhos”

  1. E que tal realizar sonhos e ficar encantado com a Lua?
    Começo a ter, cá para mim, que ficar encantado com a Lua (e com outras coisas que nos fazem sentir bem), é quanto basta para deixarmos os sonhos realizarem-se. Temos é dificuldade em aceitar essa facilidade e nem nos permitimos ficar encantados com os encantamentos. 🙂
    E a Lua sempre me encantou! 🙂

    Adorei essa citação inicial! Obrigada pela partilha.
    Daydream… always

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